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Sonhei que me lembrava como eram as coisas, 2013

 

Este trabalho pretende de maneira poética propor imagens que dialoguem com o imaginário através da dissociação da representação pela memória, utilizando para isto o personagem Jorge Luis Borges em seu estado de cegueira. As fotografias fazem uma alusão aos rastros de imagens já vistas e que hoje só existiriam na memória, fato causado pela cegueira que acometeu o personagem aos 50 anos e que modifica a relação com as imagens dada a distância da visão como índice.

 

Para a criação das imagens foi utilizado um aparato construído por mim (também utilizado na série Fluxo Cambiante), que exerce de uma analogia semântica com o processo de criação de imagem no campo da memória, tendo como referente imagético o de deficientes visuais.

 

O equipamento construído consegue apenas trabalhar a partir de fotografias já existentes, trabalhando em uma espécie de ciclo vicioso. Ele oferece a estas imagens um desdobramento sobre si: cada imagem ganha um corpo e revela à película fotográfica uma nova imagem ainda desconhecida.

 

A analogia semântica que trato consiste na memória visual de uma pessoa que um dia enxergou e que posteriormente se tornou cego. A memória e a formação de imagens nessas pessoas trabalha a partir reorganização dos elementos já presentes em seu imaginário, buscando em seu vocabulário imagéticos símbolos para compor novos ambientes.

 

O resultado do processo criativo gera imagens profundas sobre os ambientes, trazendo a força do escuro na imagem como referência psicanalítica de Carl Jung para a aparência do inconsciente sobre a percepção. A continuidade dos espaços é falha, devido a maneira como esta se dá a deficientes visuais que entendem o espaço através dos outros sentidos. A cromática amarela presente na maioria das fotografias se deve ao personagem Borges, que em seu processo de cegueira, foi a ultima cor a permanecer na vista.

 

A sobreposição de imagens trazem um caráter duplo. Através da soma de imagens já existentes, se dá uma confusão no espaço e tema, traduzindo dúvida sobre uma lembrança específica ou o embaralhamento de diversas. Além disso, pela união de imagens temos uma nova, esta que tem seu significado hermético e é o puro (re)trabalho de imagens já presentes ou referencia a possíveis ligações neurológicas do processo de evocação. As imagens em momento algum pretendem a servir de ilustração da vida do literato ou mesmo de seus contos, apenas busca utilizá-lo como ferramenta para explorar este ambiente do (re)trabalho de imagens já existentes, na memória e na fotografia.

 

Essa série e pesquisa foi realizada como monografia na conclusão do curso de Pós-Graduação em fotografia pela Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP), encerrada no início de 2014. 

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