top of page
01
02
03
04
05
06
07
08
09
10
Sonhei que me lembrava como eram as coisas

Sonhei que me lembrava como eram as coisas, 2013

 

Este trabalho pretende de maneira poética propor imagens que dialoguem com o imaginário através da dissociação da representação pela memória, utilizando para isto o personagem Jorge Luis Borges em seu estado de cegueira. As fotografias fazem uma alusão aos rastros de imagens já vistas e que hoje só existiriam na memória, fato causado pela cegueira que acometeu o personagem aos 50 anos e que modifica a relação com as imagens dada a distância da visão como índice.

 

Para a criação das imagens foi utilizado um aparato construído por mim (também utilizado na série Fluxo Cambiante), que exerce de uma analogia semântica com o processo de criação de imagem no campo da memória, tendo como referente imagético o de deficientes visuais.

 

O equipamento construído consegue apenas trabalhar a partir de fotografias já existentes, trabalhando em uma espécie de ciclo vicioso. Ele oferece a estas imagens um desdobramento sobre si: cada imagem ganha um corpo e revela à película fotográfica uma nova imagem ainda desconhecida.

 

A analogia semântica que trato consiste na memória visual de uma pessoa que um dia enxergou e que posteriormente se tornou cego. A memória e a formação de imagens nessas pessoas trabalha a partir reorganização dos elementos já presentes em seu imaginário, buscando em seu vocabulário imagéticos símbolos para compor novos ambientes.

 

O resultado do processo criativo gera imagens profundas sobre os ambientes, trazendo a força do escuro na imagem como referência psicanalítica de Carl Jung para a aparência do inconsciente sobre a percepção. A continuidade dos espaços é falha, devido a maneira como esta se dá a deficientes visuais que entendem o espaço através dos outros sentidos. A cromática amarela presente na maioria das fotografias se deve ao personagem Borges, que em seu processo de cegueira, foi a ultima cor a permanecer na vista.

 

A sobreposição de imagens trazem um caráter duplo. Através da soma de imagens já existentes, se dá uma confusão no espaço e tema, traduzindo dúvida sobre uma lembrança específica ou o embaralhamento de diversas. Além disso, pela união de imagens temos uma nova, esta que tem seu significado hermético e é o puro (re)trabalho de imagens já presentes ou referencia a possíveis ligações neurológicas do processo de evocação. As imagens em momento algum pretendem a servir de ilustração da vida do literato ou mesmo de seus contos, apenas busca utilizá-lo como ferramenta para explorar este ambiente do (re)trabalho de imagens já existentes, na memória e na fotografia.

 

Essa série e pesquisa foi realizada como monografia na conclusão do curso de Pós-Graduação em fotografia pela Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP), encerrada no início de 2014. 

bottom of page