Fissão do EU, 2013
Autoria: Marcelo Parducci, Maria Helena Sponchiado e Bianca Fanelli.
XIV. [...] Antigamente, nossa natureza não era como a de agora, mas muito diferente. Para começar, havia três sexos, e não dois apenas, como hoje: masculino e feminino. Além desses, havia um terceiro, formado dos outros dois; o nome ainda subsiste, porém o sexo desapareceu. Em verdade, era o sexo andrógino, com a forma e o nome dos outros dois sexos, masculino e feminino. Porém, só o nome chegou até nós, bastante desmoralizado. Além do mais, no todo os homens eram redondos, com o dorso e os flancos como uma bola. Possuíam quatro mãos, igual número de pernas, dois rostos perfeitamente iguais | num só pescoço bem torneado, e uma única cabeça com os rostos dispostos em sentido contrário, quatro orelhas, dois órgãos genitais e tudo o mais pelo mesmo modo, como será fácil imaginar. (PLATÃO, 2011, p. 115)
A imagem surgiu a partir do livro O Banquete, de Platão, referente ao momento em que Aristófanes na tentativa de explicar o amor, começa contando sobre a origem do ser humano, relatando a existência de um terceiro gênero, conhecido por andrógino. Ela explica em detalhes como era formado esse terceiro ser, com membros e partes de todo o corpo duplicados. O que relata a história, é que dotados de uma coragem ímpar, eles desafiaram os deuses, e por conta disso foram divididos em dois, com o intuito de enfraquece-los. A príncipio esse ser dividido, com saudades da sua outra parte, simplesmente se conectava ao outro e nada mais fazia, começando a morrer de inanição e fome, Zeus, preocupado com a mortalidade desse ser resolveu trazer seus orgãos genitais para frente, pois eles estavam em suas costas, fazendo com que entre eles se processasse a idéia de concepção e geração. A partir da idéia desse diálogo entendemos essa busca incessante do homem/mulher por sua outra metade, sendo ela uma das explicações do amor.
A concepção de nossa imagem partiu dessa idéia do terceiro gênero, e esse momento delicado da separação, que ao mesmo tempo sendo nocivo aquele ser, fez-se gerar outra concepção da idéia de nossa existência e geração. Escolhemos a valorização das formas em nossa imagem, como recurso optamos pelo uso da imagem em P&B. O movimento dos corpos, a duplicação das imagens, e todos os aspectos figurativos dentro de nossa fotografia são representações do que foi este momento de transformação bruta e ao mesmo tempo de origem delicada, que nos traz algum tipo de saudosismo, nos lembrando desse periodo onde estávamos confortáveis alocados num mesmo corpo, e de certa forma completos entre si.